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Vinhos do Alentejo promovem-se no Porto e em Lisboa – entrevista a Tiago Caravana

Depois de dois anos parados, os Vinhos do Alentejo retomam em grande e vão apresentar-se aos portuenses, pela primeira vez, nos dias 4 e 5 de novembro, no WOW – World of Wine, e em Lisboa, nos dias 18 e 19 de novembro, no CCB – Centro Cultural de Belém, em dois eventos que vão juntar mais de 500 vinhos, produtores e enólogos.

Neste sentido, falámos com Tiago Caravana – Diretor de Marketing dos Vinhos do Alentejo.

Tiago Caravana – Diretor de Marketing dos Vinhos do Alentejo
Tiago Caravana – Diretor de Marketing dos Vinhos do Alentejo

Leia a entrevista

1. Desde a última vez que conversámos, os pressupostos do mercado e a própria vida alteraram-se de forma positiva, devido à melhoria no panorama da pandemia que nos assolou. No atual contexto, quais as transformações que se deram no mercado, e qual o impacto desta normalização, para os vinhos do Alentejo?

Apesar da melhoria no panorama pandémico, este tem-se revelado um ano bastante desafiante para o setor vitivinícola, tanto devido ao período de seca em Portugal, especialmente na região alentejana, como à inflação galopante que todos enfrentamos nos mais variados setores. 

Contudo, nos últimos meses temos, de facto, verificado uma aceleração muito positiva no mercado quando comparado com os anos 2020 e 2021. A título de exemplo, no primeiro semestre deste ano, as exportações de Vinhos do Alentejo registaram uma subida de 12,4% em valor e de 9,7%, em volume, o que corresponde a 37,1 milhões euros e 10,4 milhões de litros de vinho vendidos para o estrangeiro, face ao período homólogo.

Esta subida é acompanhada pelo aumento do preço médio por litro, no estrangeiro, e reflete que a qualidade dos vinhos alentejanos está a ser valorizada lá fora, com os consumidores a estarem dispostos a pagar um valor mais elevado pelos nossos vinhos.

Já no mercado nacional, segundo os dados Nielsen referentes ao primeiro semestre de 2022, o mercado dos Vinhos do Alentejo cresceu 9,4% em volume e 37,7% em valor, o que repercutiu num crescimento do preço médio de 25,9%. Esta forte valorização justifica-se pela recuperação do setor da restauração, que no período homólogo de 2021 estava muito prejudicado pela pandemia. É o regresso à normalidade, muito ajudado também pelo regresso do turismo que, em muitos casos com maior poder de compra, acaba por subir o preço médio dos vinhos vendidos no mercado.

2. Os Vinhos do Alentejo vão apresentar-se nos dias 4 e 5 de novembro, no WOW – World of Wine, e em Lisboa, nos dias 18 e 19 de novembro, no CCB – Centro Cultural de Belém. Qual a importância destes eventos para os Vinhos do Alentejo?

Os Vinhos do Alentejo têm registado crescimentos exponenciais das exportações nos últimos anos, mas mantêm o mercado nacional como o seu maior ativo. 

O evento “Vinhos do Alentejo em Lisboa” já conta com 11 edições bastante participadas, e, este ano, rumamos pela primeira vez até ao Norte para dar a conhecer o que de melhor o Alentejo tem para oferecer. 

O marketing de eventos é ainda mais importante num produto como o vinho, que é por excelência um produto sensorial, com uma forte ligação à terra e ao fator humano, transmitido pelo produtor, pelo enólogo ou outro representante. 

Com estes dois eventos pretendemos mostrar ao consumidor nacional a força e singularidade dos nossos vinhos, em momentos que proporcionam o contato entre consumidores e produtores, possibilitando a degustação de novas marcas e colheitas, bem como a troca de experiências. Este contato permite aos consumidores aumentar o seu conhecimento sobre os produtores e vinhos presentes e, por outro lado, proporciona aos produtores a oportunidade de passar o seu posicionamento e de perceber a aceitação dos seus vinhos.

Na verdade, o Alentejo não baixou os braços, os produtores reinventaram-se e mantiveram o dinamismo e a promoção dentro e fora de portas e nós, enquanto representantes de toda uma região, garantimos: estamos juntos na projeção de um dos ex-libris da nossa terra!

3. Relativamente à estratégia de marketing dos Vinhos do Alentejo, para o mercado nacional, quais são as linhas orientadoras? Que eventos e/ou planos de ação/promoção estão projetados para os próximos meses, além dos já referidos?

No mercado nacional, onde o Alentejo é líder, a estratégia de comunicação assenta em 4 pilares, nomeadamente: 

  1. Promoção da Diversidade da região – não há só um Alentejo;
  2. Métodos únicos e ancestrais de produção, como o Vinho de Talha; 
  3. Enoturismo, como forma de aproximar os consumidores aos produtores e às suas marcas;
  4. Sustentabilidade afirmada na região através do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), que nos levou a ser a primeira região do país com um programa deste tipo e, hoje em dia, com Certificação de Produção Sustentável. Sendo que o número de produtores a atingir a certificação a este nível está a crescer todos os meses.

Pretendemos mostrar a transformação do Alentejo na forma como cuidamos das vinhas, das uvas, do território e das pessoas, esperando que o nosso exemplo venha a inspirar outros.

Já no que diz respeito ao plano de promoção no mercado nacional, podemos destacar, além destes eventos, uma forte atividade digital nas suas várias componentes, publicidade online e offline, trabalho de Relações Públicas com os media e promoção do enoturismo na região a partir da casa mãe da Rota dos Vinhos do Alentejo.

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4. Este tipo de eventos, abertos ao público (como os do WOW e do CCB) têm um impacto direto nas vendas dos vinhos do Alentejo? Esse impacto é imediato ou só se reflete a médio longo prazo? Conseguem medir facilmente esse impacto?

Este tipo de eventos são uma excelente forma de divulgar as novidades aos consumidores. Além disso, são realizados numa altura em que, tradicionalmente, se traduz num pico de vendas de vinho no mercado nacional, com o aproximar da época natalícia. No entanto, por agora, não é de todo possível quantificar o impacto direto destas iniciativas, em termos de vendas, considerando que o caráter é sobretudo promocional. 

Acreditamos que os nossos vinhos são de qualidade e que, para além das vendas que poderão surgir nos eventos, os consumidores nacionais vão ficar rendidos e muitas vendas se seguirão nos diferentes canais de venda de cada produtor.

5. Se pudesses descrever os vinhos do Alentejo, numa única e breve frase, o que dirias?

ÚNICOS POR NATUREZA.

Sem sombra de dúvida que é a frase que melhor se adequa a esta que é uma região marcada pela singularidade dos seus vinhos, que denota uma excelente aceitação pelo consumidor nacional e internacional. Singularidade esta que se associa a uma produção com respeito pela natureza e ao ritmo da natureza, traduzindo aquilo que de melhor se pode obter da expressão de cada terroir alentejano.

Ainda, devemos referir que quer se trate de vinhos brancos, tintos ou rosés, o Alentejo é capaz de produzir vinhos com a capacidade única de puderem ser bebidos cedo, mantendo a sua capacidade de envelhecimento.

Além disso, deve-se sempre considerar o fator preço. No último ano, o mercado valorizou o preço médio por litro. Recordemo-nos que o preço é o fator distintivo que atribui o selo de qualidade na mente de cada vez mais consumidores, em vários mercados estratégicos.

6. Em termos mais genéricos, e falando nos vinhos alentejanos, como olhas para o panorama atual? Quais os principais desafios e oportunidades, seja no mercado nacional ou internacional?

São muitos os desafios que se colocam atualmente ao setor vitivinícola: desde as alterações climáticas, à inflação e, claro, à Guerra na Europa. 

As alterações climáticas são um dos fatores que mais preocupa os nossos produtores, considerando o quanto impactam os vinhos produzidos. Nesse aspeto os produtores têm feito um trabalho notável de adaptação, através da utilização de castas com maior acidez e da otimização da gestão do momento de vindima.

O aumento dos preços das matérias-primas (como do vidro), dos fitofármacos ou da energia é outro dos desafios que se pode destacar e para o qual tem de existir uma resposta à altura. Aliás, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, que conta já com 517 membros, que correspondem a quase 12 mil hectares de vinha, tem promovido soluções que trazem vantagens inegáveis em termos de poupanças de recursos e, claro, do planeta. 

A eficiência energética e o recurso às energias renováveis, a troca das tradicionais garrafas de vinho por outras mais leves e que utilizam menor quantidade de vidro (e que são, por isso, mais baratas, mais eficientes no transporte e geram menos emissões de carbono); ou utilização de menos produtos fitofarmacêuticos através do recurso a organismos auxiliares (como o caso dos morcegos que se alimentam das pragas das videiras) e à plantação de bordaduras em volta das vinhas. Todos estes, e muitos outros, exemplos de poupança de recursos possuem vantagens a nível ambiental, mas, também, vantagens económicas na redução de custos, aumentando a resiliência económica das empresas.

Em muitos dos principais mercados de exportação, a preocupação com a sustentabilidade dos meios de produção é um fator chave, sendo, também, cada vez mais importante no mercado nacional. Este é um ponto de diferenciação que o Alentejo tem hoje e sobre o qual temos vindo a capitalizar. 

É preciso continuar a melhorar o trabalho de excelência que tem sido feito no campo e nas adegas, e é preciso também comunicá-lo, aumentando cada vez mais a atratividade dos Vinhos do Alentejo.