Segunda-feira, Junho 5Bem vindo(a) #winelover 😀

Os Novos Produtos que se destacaram em 2021

No primeiro artigo de 2022 sugiro fazermos uma revisão daquilo que em 2021 mais me impressionou em termos de lançamentos de novos produtos no nosso país.

Vamos a isso?

#5 – Vinho em Lata (português para portugueses)

Estávamos no início de Abril quando surgiu no mercado nacional a notícia de que os produtores portugueses (com principal destaque para os da região do Vinho Verde) estavam a criar vinho em lata. Apontavam-se na altura os mercados de exportação como o principal filão de vendas, mas muitas marcas decidiram apostar também no mercado nacional.

Foram os casos de Gatão, Gazela, 80s, Adega Mãe entre outras.

Na Aveleda também apostámos neste formato, com a nossa marca Casal Garcia, mas o nosso foco, pelos estudos que realizámos, foi sempre 100% na exportação.

Apesar desta tipologia de embalagem já se estar a tornar mainstream para vinho em mercados como os EUA ou o Reino Unido, considerámos que Portugal ainda não estaria preparado para uma disrupção deste género no vinho.

Ainda assim, não deixa de ser de realçar este avanço do sector para um novo formato de embalagem que até aqui era praticamente inexistente em Portugal.  

A nossa perceção é que no nosso país talvez ainda seja cedo para ele se sedimentar no vinho como uma alternativa ao vidro, mas já noutras categorias…

Fonte: https://trendy.pt/2021/03/gatao-e-gazela-agora-o-vinho-vem-em-lata-para-descomplicar-e-facilitar-o-consumo/

#4 – Novas Sangrias

A categoria não é propriamente uma novidade em Portugal, pois há já muitos anos que nos supermercados se consegue encontrar com alguma facilidade Sangria embalada, mas a oferta nunca foi muito extensa. Aliás, poderia até dizer-se que havia apenas um quase monopólio da marca espanhola Don Simon.

Esse cenário alterou-se quando em 2016, com a marca Casal Garcia, introduzimos no mercado uma Sangria Tinta em garrafa de vidro. Inicialmente parecia um desafio hercúleo, pois íamos competir com uma marca bem estabelecida cuja oferta era o dobro da nossa capacidade por metade do nosso preço. Apesar desta diferença sempre acreditámos que tínhamos uma proposta que poderia convencer o consumidor nacional, e assim aconteceu.

No seguimento do nosso lançamento surgiram pouco tempo depois Casal Mendes e Faisão com as suas ofertas de Sangria, mas a categoria pouco mais mexeu. Por alguns anos parecia que a categoria iria ser disputada entre nós os 4, mais algumas marcas com pouca expressão e as marcas próprias que se aperceberam que haveria alí potencial e criaram também as suas referências (alinhadas com a embalagem/imagem de Don Simon).

Até que este ano Gazela (com 2 referências – branca e rosé) e Lancers (apenas com Tinta) decidiram entrar também na luta. Coincidentemente este ano saiu uma campanha a reforçar o posicionamento da categoria Sangria na marca Casal Garcia (ver imagem em baixo).

Para já, os grandes vencedores parecem ter sido os consumidores, que em pouco mais de 5 anos ganharam uma maior amplitude de escolha e uma possibilidade de experimentar diferentes versões de sangria. Outro vencedor é a categoria em si, que de um canto escuro nas prateleiras do fundo do supermercado começa agora a ganhar o destaque que lhe é merecido, com níveis mais altos nas prateleiras e muitas vezes exposições em topos e em ilhas.

Fonte: https://www.cardapio.pt/vinhos-e-gourmet/noticias/55357-casal-garcia-lanca-campanha-de-verao-sigaaalegria/

#3 – Hard Seltzers

Os Hard Seltzers eram considerados até há 2 ou 3 anos uma moda, que muito provavelmente iria passar, como outras modas antes dela. No entanto, esta moda parece ter vindo para ficar, pelo menos nos EUA, onde a categoria cresceu de tal forma que as previsões apontam para que em breve representem 10% das vendas das cervejas. Pode parecer um número ainda baixo, mas se olharmos ao valor absoluto estamos a falar em 5,6 Biliões de dólares, com a perspectiva de atingir os 50 Biliões até ao final da década.

Já tinha colocado esta categoria no meu artigo de Março sobre os 10 tipos de produto que mais me tinham inspirado nos 10 anos que levo desta indústria, por isso não estranhei a introdução da primeria Hard Seltzer em Portugal, e talvez até tenha chegado tarde, tendo em conta o seu estágio noutros mercados.

A Phunk, um projeto de um aluno português que estudou nos EUA e retornou a casa com a sensação que faltava este tipo de bebida no nosso país, apresentou-se no mercado como a primeira bebida gaseificada, uma água com álcool e aromas.

Depois da Phunk veio a Selza, mais um projeto de empreendedores nacionais. Mais ou menos pela mesma altura apareceu com mais “estrondo” a Pure Piraña, a oferta da Heineken que veio com bastante investimento e muitos anúncios (em Tv e Digital). Já com o verão a decorrer, por isso um pouco atrasada, surgiu a versão da Sommersby para esta categoria.

Por último, não poderia deixar de mencionar a oferta da madeirense Coral, pois de todas é a única que se apresenta em versão garrafa de vidro, o que a torna a mais disruptiva para a categoria, muito assente nas embalagens de lata.

Os Hard Seltzer têm a tração internacional para se colocarem no mercado nacional como uma nova alternativa à cerveja ou ao vinho, como conseguiu com sucesso a categoria sidra há uns anos atrás. Ainda é cedo para dizer se os Hard Seltzers lhe vão seguir o caminho no nosso país…

No entanto, no meu entender, estes têm dois problemas que as sidras não tiveram:

– explicar bem o que são, porque “hard seltzer” não é um nome, de todo, fácil de descortinar pelo consumidor português e a ideia de água gaseificada com álcool e aromas também parece ainda fazer alguma confusão ao consumidor;

– melhorar o líquido em si, porque assentar a proposta apenas no “good for you” (porque tem menos calorias, porque é sem gluten, porque tem anti-oxidantes e anti isto e aquilo) nunca será suficiente se não se apostar no essencial, que é o “gosto” da bebida. Já provei várias e ainda não estou convencido, mas estou disponível para que me convençam..

Pelo que me fui apercebendo, por conversas que fui tendo com colegas e amigos, o consumidor português também ainda não está a entrar nesta onda.  

Fonte:: https://visao.sapo.pt/anossaprima/2021-09-17-hard-seltzer-a-nova-categoria-de-bebidas-ja-se-disseminou-pelo-mercado-portugues/
Fonte: https://marketingvinhos.com/2021/06/21/jose-maria-da-fonseca-investe-na-selza/

#2 – Caipirão e Morangão em RTD

Bem perto do final do ano, já no mês de Dezembro, ao “vaguear” pelos lineares das bebidas alcóolicas (algo que dou por mim a fazer com bastante frequência, de tal modo que acho que alguns repositores do supermercado ao pé de minha casa devem pensar que eu tenho algum problema com a bebida) encarei com uma caixa de Licor Beirão em formato “gift” para o Natal, no entanto a oferta em vez de ser o tradicional copo eram duas latas, uma de Caipirão e outra de Morangão.

Sou um grande apreciador destes cocktails e por isso fiquei bastante entusiasmado com a ideia. Não posso dizer que correspondeu a 100% à experiência de beber um Caipirão ou um Morangão numa qualquer tenda de Licor Beirão num qualquer festival de verão onde eles costumam marcar presença, mas também não me desagradou, como aconteceu com os Hard Seltzers.

Se ganharam um cliente? Tenho dúvidas, mas gabo-lhes a coragem de arriscarem, sobretudo numa marca que é quase mono-produto e que tem conseguido vingar e prosperar dessa forma há muitos anos.

Fui pesquisar no site de Licor Beirão e é possível fazer a compra individual das latas, no entanto, nunca as vi de forma isolada nos supermercados. Será em 2022?

Fonte: https://www.dinheirovivo.pt/empresas/licor-beirao-lanca-cocktails-em-lata-14184264.html

#1 – Portonic (ou melhor, “Porto Tónico RTD – Ready to Drink”)

De longe a melhor surpresa do ano!

Não pensei que uma região como o Douro, com todo o seu tradicionalismo, fosse capaz de ter esta abertura para possibilitar aos operadores da região criarem cocktails de Vinho do Porto engarrafados.

Nada o faria prever, a não ser talvez o facto de o Vinho do Porto estar praticamente “estagnado” há já vários anos, e apenas as categorias especiais conseguirem combater este status quo. Mas todos sabemos que não é somente com as categorias especiais que o Vinho do Porto vai conquistar o seu lugar no mundo.

Como em tudo na vida, é no volume que está o negócio. É a diferença entre ser-se um blockbuster ou um filme de culto. O filme de culto poderá até ser melhor, e irá certamente agradar a meia dúzia de críticos, mas serão sempre os blockbusters que vão fazer a indústria progredir e a animar o público em geral.

Claro que é bom que as categorias de topo prosperem, mas sem uma base sólida o que irá acontecer ao Vinho do Porto é caminhar para ser um micro-nicho, aquele tipo de vinho que muita gente já ouviu falar, mas que muito poucos terão alguma vez experimentado.  

Ao contrário do Hard Seltzer, o Portonic (ou Porto Tónico) tem a seu favor o facto de ser uma bebida que sabe bem, e já provei vários desde que foram lançados.

O único senão na criação desta categoria estará no nome em si. O que é um “Portonic”? Já viram alguém pedir um “Portonic” num bar?

Outre entreve à popularidade da bebida além-fronteiras poderá estar no facto deste cocktail não ter o reconhecimento internacional que tem um Gin & Tonic ou de ter grandes players produtores mundiais a puxar por si. Mas para mim isso até poderá ser algo positivo, pois é mais uma oportunidade para os produtores nacionais criarem algo de raiz com impacto internacional antes de uma Pernod Ricard, uma Heineken ou uma AB/INBEV da vida decidam que também querem entrar no jogo.

Para já, os operadores parecem estar a responder à liberdade que lhes foi dada e são já várias as opções no mercado. Agora é trabalhar para conquistar a simpatia do consumidor.

Fonte: https://www.thedrinksbusiness.com/2021/05/taylors-launches-port-and-tonic-in-a-can/

Numa visão transversal, apesar dos constrangimentos com a materia prima alumínio, diria que o ano de 2021 ficou marcado em Portugal por muitos lançamentos onde o formato lata teve um papel de destaque. Será algo para continuar em 2022?

O que nos aguarda este ano que agora arranca?

Inovadoramente vosso,

Ildefonso Martins

Diretor de Inovação e Estratégia da Aveleda

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