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Vindima 2020 – Sogrape assegura boa qualidade em ano exigente

Sogrape – Douro Superior

Em Portugal, 2020 é um ano de menor quantidade e qualidade elevada, com vinhos bons a muito bons, resultado de condições climatéricas instáveis e de um verão muito quente, que afetaram e diminuíram a produção, exigindo trabalho intenso de equipas experientes na vinha e adega. A sensação de superação e de êxito num ano difícil junta-se à satisfação global pela boa qualidade da colheita, antevendo-se uma evolução favorável para os vinhos da Sogrape em Portugal.

Ano 2019-2020

O IPMA-Instituto Português do Mar e Atmosfera classificou este Inverno como extremamente quente e seco, apesar das chuvas intensas e vento forte das tempestades de dezembro. Em fevereiro, as regiões a sul do Tejo estavam em seca, situação revertida pelas chuvas de março e abril que repuseram água no solo e criaram condições favoráveis ao aparecimento de doenças.

Na primavera a precipitação foi normal para a época, mas irregular, e as temperaturas estiveram acima da média, sobretudo em maio. Em várias regiões, a alternância constante entre dias quentes e secos e dias de chuva causou focos de doenças e pragas na vinha.

O verão foi muito quente e seco, adiantando o ciclo vegetativo e afetando a planta. Julho foi o mais quente de que há registo, com 3 ondas de calor. Agosto foi mais normal mas acabou frio e, já com vindimas a decorrer, alguma chuva acelerou as maturações, irregulares, depois ajudadas por algumas noites frescas. Em setembro as temperaturas acima do normal, sobretudo na 1a quinzena, encerraram o período jan-set mais quente dos últimos 90 anos.

No geral, as uvas foram colhidas em boas condições fitossanitárias, numa vindima precoce que decorreu sob tempo seco, excetuando alguma chuva típica do equinócio, aumentada pela passagem da tempestade Alpha. A instabilidade das condições meteorológicas ao longo do ciclo, e os vários eventos regionais a causar doenças, pragas, escaldão e desidratação, obrigaram a trabalho intenso e minucioso das equipas de viticultura e de enologia.

As restrições impostas pela situação de pandemia acrescentaram alguma perturbação ao longo do ano, obrigando a adaptação constante. Curiosamente, a pandemia COVID-19 trouxe dificuldades inesperadas à viticultura que, em ano desafiante e instável, teve de lidar com previsões meteorológicas menos fiáveis, afetadas pela redução na recolha de dados atmosféricos devido ao menor número de voos comerciais, conforme alerta da OMM- Organização Meteorológica Mundial.

Em julho, o Instituto da Vinha e do Vinho antecipou uma quebra de 3% na produção em 2020 face a 2019 com um volume de 6,3 milhões de hectolitros | “Previsão de Colheita 2020-2021, IVV; Julho 2020”. – https://www.ivv.gov.pt/np4/9428.html

Várias regiões de referência previam variações significativas, com quebras acentuadas no Douro/Porto e Dão (-20% cada) e aumentos mais significativos no Minho (+9%), Lisboa e Alentejo (+5% cada), entre outras. Os dados atuais apontam para uma revisão em baixa do total da produção, efeito do calor excessivo do verão.

Sogrape no Douro

Luís Sottomayor, responsável pelos vinhos do Douro e Porto da Sogrape, fala de um “ano de qualidade média elevada”, com vinhos muito promissores, boa intensidade e equilíbrio apesar do verão excecionalmente quente. A região do Douro tem uma redução de produção de cerca de 30% vs 2019 (acima dos previstos -20%), uma situação de menor quantidade face às expectativas que se repete na região pelo 4a ano nas últimas 5 vindimas.

Luís diz que esta “não foi uma vindima nada fácil”, e exigiu muita atenção e dedicação na vinha e na adega. A vindima começou cedo, a 5 de agosto, com uvas Moscatel da Quinta do Seixo (Pinhão) que, colhidas no ponto ideal, o deixam feliz “acertámos e conseguimos fazer um Moscatel de mesa e Porto de altíssima qualidade”.

A adega da Quinta do Sairrão (São João da Pesqueira) foi a primeira a abrir, com estas uvas, e fechou a vindima a 1 de outubro, quase 2 meses depois. As uvas brancas de altitude da quinta, plantadas a 600m, e de vinhas próprias em cotas altas na zona da Meda e Muxagata aqui vinificadas estavam excelentes. Resistindo ao calor e nada afetadas pelas trovoadas localizadas, produziram vinhos de boa qualidade, com frescura e intensidade. Rosés e tintos aqui vinificados também se destacam, com as Touriga Nacional no geral a portar-se muito bem. Bons brancos igualmente a nascer na adega da Sogrape em Vila Real (a primeira adega da empresa), a partir de uvas próprias e de viticultores selecionados em zonas altas e frescas na sub-região do Baixo Corgo.

Na Quinta da Leda (Foz Coa, Douro Superior) a vindima iniciou a 17 de agosto, de modo suave até “ter a certeza do momento certo”, o que aconteceu na semana seguinte, recomeçando em força a 22/08 e acabando a 01/10. Os 170ha de vinha, exclusivamente tinta, estavam em ótimas condições apesar do ano extremo, bem-adaptadas à zona tipicamente muito quente e seca, beneficiando da irrigação seletiva e cuidados de viticultura que as ajudaram a enfrentar a canícula do ano. O acompanhamento detalhado das maturações na quinta e nas zonas envolventes a diferentes altitudes permitiu criar, mais uma vez, vinhos com muita diversidade e boa qualidade. Também as vinhas velhas das Quintas do Porto, Caêdo e Seixo (Cima Corgo) resistiram bem ao calor e as ricas misturas de castas criaram vinhos intensos e com complexidade.

Com o calor intenso as uvas foram desidratando e a produção diminuindo, mas Luís Sottomayor diz que se “defenderam bem” e está otimista com o ano, de “qualidade média muito elevada” e com vinhos muito bons para os incontornáveis Casa Ferreirinha ‘Vinha Grande’, ‘Papa Figos’ e ‘Esteva’, e vinhos do Porto Reserva. Prudente como sempre, Luís diz que é cedo para avaliar os vinhos das gamas superiores, “precisam de tempo”.

Foi um ano mais favorável para as vinhas da margem esquerda do Douro” (caso das Quintas do Seixo e Leda, entre outras) que se protegem mais do calor e do sol de sul e poente, e nas parcelas que juntam estas condições nasceram vinhos muito bons, que equilibram com zonas mais quentes. O segredo está na harmonia, só possível pelo conhecimento aprofundado de cada parcela e pela seleção minuciosa de castas e locais, no tempo certo. Luís está “muito contente com as misturas que fizemos”, e dá como exemplo “na vinha velha da Quinta do Seixo, uma parte de Touriga Nacional de nascente e algum Sousão de poente que nos deu vinhos com um equilíbrio muitíssimo bom, que prometem e muito”. E se o Luís o diz…

Sogrape no Alentejo

Luís Cabral de Almeida, enólogo dos vinhos do Alentejo da Sogrape, fala de uma “colheita com qualidade e diversidade, e alguns vinhos excecionais”, num ano desafiante na vinha e na adega. A região do Alentejo espera uma vindima em volume idêntica à colheita anterior, contrariando a previsão inicial de +5%, efeito do calor intenso do verão que afetou o bom desenvolvimento da planta e diminuiu a produção.

O Alentejo tem uma grande amplitude geográfica e as vinhas da Sogrape situam-se em sub-regiões distintas.

Propriedade da Sogrape desde 2018, a Quinta do Centro em Portalegre, tem 13ha de vinha plantada a 550m de altitude na Serra de São Mamede. Aqui o inverno foi muito chuvoso criando boas reservas para a planta (em nov-dez choveu o equivalente a todo o ano anterior) e, na primavera, os dias em que não choveu foram amenos, fazendo avançar o ciclo vegetativo.

O ano foi rico em eventos meteorológicos – entre abril e maio, a chuva forte, geadas e granizo (que “fez a vindima” em muitas vinhas da região), e ondas de calor em julho, com máximas acima dos 35oC quase todo o mês e noites quentes (que causaram algum desequilíbrio inicial nas maturações). As videiras conseguiram resistir e, ajudadas pelo intenso trabalho de viticultura dos últimos dois anos, tiveram uma boa relação folha-fruto e pouco escaldão, criando uvas de qualidade.

A vindima decorreu com bom tempo, entre 1 e 17 de setembro, e originou vinhos com muito carácter e ótima acidez natural, apesar do calor. Luís fala de um “ano excecional em Portalegre”, “vinhos com fruta, corpo e meio de boca fora do normal, muito longos”, de vinhas velhas, de Alicante Bouschet, e uma “Trincadeira excelente” que, muito bem trabalhada na vinha, confirmou as expectativas do enólogo para a casta neste terroir.

A sul, a Herdade do Peso na Vidigueira teve um ano “muito trabalhoso, e com bons resultados”. Após um inverno seco, as chuvas de maio causaram míldio e oídio (bem controlados), junho trouxe fortes ataques de cicadela/cigarrinha verde e, a partir de julho, o calor intenso exigiu muito cuidado para evitar escaldão. O acompanhamento das necessidades hídricas reduziu perdas, mas o calor excessivo “rebentou com as videiras”.

Luís lembra que agosto “prometeu algo de bom”, mas as temperaturas voltaram a subir e, sem as amplitudes térmicas e noites frescas típicas da Vidigueira, as uvas não conseguiram atingir a carga fenólica e equilíbrio desejados. A vindima abriu com brancos a 12 de agosto e fechou com tintos a 17 de setembro (“nunca acabou tão cedo”). Grande parte da colheita mecânica foi de noite e madrugada para preservar frescura, e a câmara de frio foi essencial para baixar a temperatura das uvas de qualidade vindimadas à mão para caixas pequenas.

Luís diz que há vinhos “aromáticos e expressivos, de qualidade média … e algumas ‘coisas’ muito boas”. A casta Antão Vaz mostrou a sua boa adaptabilidade e resistência em climas quentes, “há brancos giros, aromáticos e com boca, com substância”. Nos tintos, destacam-se castas e talhões já habitualmente de exceção, de entre a rica diversidade de 120ha de vinha adulta em 12 tipos de solos. Luís dá como exemplos do trabalho de seleção minuciosa e vinificação cuidada o Alicante Bouschet do talhão 21, “com grande equilíbrio, intensidade e volume de boca”, ou o Syrah do talhão 7, “extremamente aromático, resinoso e mentolado”.

Em 2020 foram plantados mais 37 hectares, com castas tradicionais em parte conduzidas em vaso, e construída uma nova adega, que permite explorar ainda mais as diferentes características da herdade. Entre antigas talhas de barro e modernas tulipas de betão, Luís conclui: “fomos ao passado para construir um futuro diferente, ainda mais amigo do ambiente, com cada vez mais diferenciações que farão a Herdade do Peso sobressair.”

Sogrape no Dão

Beatriz Cabral de Almeida, enóloga da Quinta dos Carvalhais, destaca os “tintos de muita qualidade num ano ‘completo’, para todos os perfis”, mas lamenta a pouca quantidade da colheita, sobretudo em vinhos brancos. 2020 é um ano de menor produção no Dão (-25% vs 2019), afetado pelas geadas da primavera e calor do verão.

Localizada entre Nelas e Mangualde, no coração do Dão, a Quinta dos Carvalhais tem 50ha de vinha, plantada com as castas tradicionais da região, sobretudo Encruzado, Touriga Nacional e Alfrocheiro. Beatriz diz que foi um ano trabalhoso porque confuso e a exigir muita atenção. Habituada a ter uvas maduras mais faseadamente, como é habitual na quinta, neste ano as castas brancas e tintas ficaram prontas quase todas ao mesmo tempo, obrigando a colheita seletiva e minuciosa.

A vindima começou cedo, a 26 de agosto, foi toda manual e decorreu rapidamente sob tempo seco. A quantidade de uva da quinta foi menor, efeito do arranque de plantas afetadas pelos incêndios de 2017 e da área em produção ter sofrido com as geadas (c.11ha).

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A colheita iniciou com a casta Gouveio para brancos, e as tintas Jaen, Alfrocheiro e Touriga Nacional para rosé. Para tintos, curiosamente, a vindima começou e acabou com a casta Alfrocheiro, as primeiras uvas colhidas a 4.set (vinha das Mimosas, zona mais árida) e as últimas a 14.set. (vinha do Lago, zona mais húmida). As várias parcelas de Encruzado e de Touriga Nacional foram sendo colhidas no ponto ótimo, ao longo deste período. Como sempre, entre 7.set e 1.out, a adega da quinta recebeu uvas selecionadas de viticultores da região.

Para Beatriz este é “um ano muito expressivo das diferentes castas e locais”, a mostrar bem a variação nos diferentes locais onde estão plantadas (estudos de microzonagem identificaram 9 tipos de solos na quinta, plantados com várias castas em múltiplas parcelas). O resultado do trabalho minucioso na vinha e adega é “uma enorme diversidade, com muitas ferramentas para fazer vinhos bons e diferentes, complexos”.

Apesar do verão quente, destaca “a boa acidez e frescura na boca dos brancos”, com os bons aromas, frescura e complexidade do Encruzado a prometer boa evolução. Os rosés marcam pela “fruta fresca, jovem e direta”. Em tintos, o ano é “completo, com vinhos para todos os estilos”, que têm em comum a “fruta muito expressiva, sem ser muito direta, são aromáticos, frescos, vibrantes, vinhos que dá gosto provar”.

2020 fica na história da Quinta dos Carvalhais pela replantação dos 28ha afetados pelos incêndios que em 2017 causaram a destruição de vinhas e perda de produção a muitos viticultores na região. João Porto, diretor de viticultura da Sogrape no Dão, diz que este foi “um dos pontos altos do ano e correu muito bem”, apesar da dificuldade do ano. O esforço compensou e Beatriz já pode admirar de novo os 50ha de vinha. “Dá gosto ver a quinta replantada; foi uma dor vê-la arrancada. É o renascer, o início de um novo ciclo. Faz-me sonhar…

Sogrape nos Vinhos Verdes

António Braga, responsável pela Quinta de Azevedo e Vinhos Verdes da Sogrape, está “muito contente com os vinhos do ano”, uma vindima de qualidade, numa sucessão de bons anos desde 2017. A nível global, a região dos Vinhos Verdes tem um aumento de produção de cerca de 5% (abaixo dos +9% previstos pelo IVV), apesar de focos de míldio e do calor excessivo.

A histórica Quinta de Azevedo situa-se em Lama, Barcelos, e tem 34ha de vinha unicamente de castas brancas.

António diz que foi “um ano para profissionais de viticultura” e o resultado é uma colheita de qualidade alta. A vindima começou antes do normal e decorreu em 3 períodos, por parcelas selecionadas, iniciando com Alvarinhos a 5 de setembro e terminando 2 semanas depois, a 18, com Loureiros. Esta vindima de pormenor obrigou a esforço adicional, numa operação pára-arranca que garante a recolha no ponto ótimo da uva, mas exige ação rápida e trabalho muito intenso das equipas.

Na quinta dominam as castas Loureiro e Alvarinho, plantadas em 5 tipos de solos e em parcelas de várias idades, colhidas em momentos distintos. Excluindo 1 hectare de vinha em patamares com várias castas plantadas em “field blend” colhida à mão, a vindima foi feita à máquina, parcialmente de noite e de madrugada para garantir a maior frescura na chegada das uvas à adega.

António fala de um “ano AC/DC, antes da chuva e depois da chuva”, em que foi preciso gerir os tempos para colher as uvas nas melhores condições. Está “muito contente com os vinhos, sobretudo os do início da vindima”. Destaca que as vinhas novas de Alvarinho (c. 8ha plantados em diferentes cotas e solos em 2017) se portaram muito bem, mostrando maior maturidade e produção mais consistente, a permitir melhor aferição do seu potencial futuro.

Agradam-lhe alguns Arinto/Pedernã, “muito vivos e frescos”, de viticultores selecionados, e quanto às castas da quinta, considera que os Loureiros estão “aromaticamente muito bons, com boa acidez apesar do ano quente” e os Alvarinhos são excelentes, confidenciando mesmo que alguns têm potencial para ser “os melhores Alvarinhos da quinta até hoje!

Sogrape em Lisboa

António Braga lidera a enologia da Quinta da Romeira em Bucelas e está muito satisfeito com os vinhos do ano, Arintos “com boa maturação e acidez muito elevada, firmes e interessantes”, antecipando uma boa evolução. A região de Lisboa prevê um aumento de produção de 5% face ao ano anterior, apesar de alguns focos de doenças e escaldão devido ao intenso calor do verão.

Adquirida pela Sogrape em 2019, a tricentenária Quinta da Romeira é emblemática e fundamental em Bucelas.

Este ano aumentou substancialmente a produção face à pequena colheita de 2019, resultado do intenso trabalho de viticultura e reestruturação da vinha que a Sogrape tem em curso desde a sua compra. Os resultados começam já a ser visíveis e o bom ciclo de 2020 permitiu obter uma colheita de qualidade e mais generosa em quantidade, apesar de ainda longe do potencial da quinta.

Nos 75ha da vinha foram já identificados 22 tipos diferentes de solos, plantados quase exclusivamente com a casta rainha de Bucelas, Arinto, em diferentes exposições e cotas, o que permite variedade de fruta e uma evolução, maturação e colheita faseadas.

A vindima na Quinta da Romeira durou 1 mês, iniciando a 31 de agosto para espumantes e a 3 de setembro para os vinhos tranquilos, e terminando no dia 30. António recorda que esta é somente a 2a vindima desde a aquisição pela Sogrape em 2019, “estamos ainda em aprendizagem” e a descobrir a rica diversidade da quinta.

O enólogo está muito contente com os Arintos deste ano, com acidez elevada (“quase a mais!”), “vinhos vibrantes, com personalidade fresca e viva, muito fina, com textura, intensidade e excelente equilíbrio”, para os quais prevê uma boa evolução. António confessa-se cada vez mais cativado pelos vinhos desta casta de qualidade, que “nascem ‘patinho feio’ e conquistam com o passar dos anos”, mais contidos na vindima e depois evoluindo para vinhos extraordinários. Em jeito de conclusão diz que “a qualidade é muito alta, com condições para vir a ser um ano excecional de brancos”.

Outras regiões

As regiões da Bairrada e de Trás-os-Montes são fundamentais para a Sogrape, sendo as principais origens de uva e onde se localizam as adegas de referência para os vinhos da marca Mateus. Em ambas, a produção foi abaixo do normal em quantidade, mas com vinhos de boa qualidade, especialmente para rosés e espumantes.

A produção da Bairrada/Beira Atlântico foi de +15% face à baixa quantidade de 2019, mas ainda assim 25% abaixo da média de produção dos últimos 5 anos. A qualidade é elevada, apesar do ano difícil na vinha, com doenças causadas pela primavera chuvosa e dias com neblinas, mas amenos, e algum escaldão devido ao intenso calor de verão.

Nesta faixa central da costa atlântica, a Sogrape é dona da Quinta de Pedralvites na Anadia, plantada com castas brancas como Maria Gomes, Bical, Arinto e Cerceal. Os seus 63ha de vinha incluem 2,5ha de Sercialinho, uma casta quase desparecida, que deu origem em 2017 ao primeiro vinho da série “Impar”, um branco excecional.

Durante as trovoadas de maio, um raio caiu nesta vinha e afetou algumas linhas, destruindo 75 videiras… A vindima começou cedo, a 31 de agosto, e o bom tempo permitiu colher as uvas em ótimo estado fitossanitário. António Braga, líder da equipa de enologia, está bastante satisfeito com os vinhos da quinta e de viticultores, “muito bons para secos e espumantes”, equilibrados e com boa acidez, destacando uma “ótima Maria Gomes”.

Desde a década de 1970 que a região da Bairrada é essencial para os vinhos da marca Mateus, vinificados na adega da Sogrape na Anadia, a partir de uvas tintas de centenas de lavradores privados, e que originam rosés de muito boa qualidade. Destinados também a vinhos Mateus, a Sogrape seleciona uvas no Nordeste transmontano, vinificados na adega da empresa na Bemposta, junto ao Douro internacional.

Em Trás-os-Montes a previsão global da região apontava para -20% face ao volume da vindima de 2019, mas a quebra real foi de cerca de -10%. A Sogrape, tendo em conta o aumento do número de lavradores com quem trabalha na região, viu a sua vindima aumentar 15% em relação a 2019 e 60% em relação à média dos últimos 5 anos. Apesar das dificuldades do ano, e das ondas de calor praticamente ininterruptas de julho, a vinha está muito adaptada ao clima mais extremado da região e as uvas terminaram bem as maturações, produzindo vinhos rosé de muito boa qualidade.

Em resumo…

• Espumantes e Rosés de boa qualidade
• Brancos de alta qualidade nos Vinhos Verdes
• Brancos de alta qualidade em Bucelas
• Tintos de muito alta qualidade no Dão
• Boa qualidade média e alguns vinhos excecionais no Alentejo
• Qualidade média elevada e vinhos promissores no Douro e Porto
• Expectativa de evolução favorável dos vinhos

Ano de Exigência e Superação

Com grande diversidade de origens, a Sogrape trabalha com mais de dois mil viticultores nas principais regiões portuguesas que viram a produção afetada e entregaram, em geral, menor quantidade de uva, a preços iguais ou superiores à colheita anterior, pressionados pelos custos elevados do ano exigente e alguma escassez. As mudanças climáticas e anos atípicos como este, a exigir recursos por vezes inexistentes, alertam para as fragilidades de muitos pequenos viticultores, mas confirmam o acerto das opções estratégias da Sogrape em Portugal e no mundo para construir um futuro cada vez mais sustentável.

Na memória fica para sempre a recordação de uma vindima única, num momento marcado pelas adversidades da pandemia COVID-19 que trouxe dificuldades acrescidas ao ano já difícil. O enorme desafio foi superado com sucesso pelos profissionais de viticultura e enologia que, no caso da Sogrape, implementaram com grande sucesso planos de contingência muito rigorosos e garantiram uvas e vinhos de qualidade nos c.1000ha de vinha e 12 adegas da empresa em Portugal, sem nunca parar a operação. O esforço traz uma sensação global de superação num ano difícil, que se alia à satisfação pela boa qualidade da colheita.