Sempre que prova vinhos para o hotel The Yeatman, no Porto, Beatriz Machado põe a venda nos olhos. Não quer ser perturbada pela marca nem pelos nomes sonantes. “Não temos Barca Velha, por exemplo. No fundo, procuramos fugir aos clichés.”, explica a diretora de vinhos do hotel de luxo ao Dinheiro Vivo.
Beatriz é engenheira alimentar e antes do The Yeatman estava a estudar e a trabalhar na Califórnia, Estados Unidos. Especializada em análise sensorial, Beatriz gosta de perceber as tendências dos consumidores e de explicar, por palavras que os não especialistas percebam, o que faz do vinho aquilo que ele é. “Tento perceber o que o enólogo faz e traduzir esse trabalho numa linguagem que os consumidores habituais percebam.”, esclarece.
Nesta carta – em que 86% dos vinhos são portugueses -, não há descrições de aromas de banana nem de flores, nem boca longa ou curta. Beatriz divide os vinhos por personalidade, define-os pela combinação de castas e caracteriza-os com base nesses elementos. “Um vinho com personalidade de festa, por exemplo, é bubbly”, explica. Os produtores escolhidos pela especialista pagam um valor anual (aproximadamente 10€/dia) para terem os vinhos na carta e para darem nome a um dos 82 quartos do hotel. “Todos os produtores são nossos parceiros vínicos. Para além de terem um quarto têm toda a simbologia à volta dos vinhos.”
Beatriz prepara as provas dos clientes com cuidado: na carta, cada tipo de vinho tem um preço – para o cliente escolher por tipologia e não por preço – e cada vinho é servido de acordo com as especificidades do produto. “A minha função é pôr os vinhos na fatiota adequada, para quando se abrir o roupeiro a pessoa já ter o que vestir.” Sempre no contexto adequado para a experiência ser positiva. “O produto tem que ser coerente, de forma a que os clientes voltem a comprar o vinho.”
Quando lhe apresentaram o The Yeatman, Beatriz nem hesitou. “Vim a Portugal de férias e o CEO da empresa falou-me de um projeto arrojado que tinha como objetivo mudar a mentalidade das pessoas. Pensei: ‘´Bora lá'”, conta. Aos 31 anos, a engenheira é responsável pela carta de vinhos do hotel do Porto, agora premiada e considerada pela revista especializada Wine Spectator uma das melhores do mundo na categoria de menos de 1000 referências.
“Sempre quisemos diferenciar-nos por ter a melhor coleção de vinhos portugueses”, explica Beatriz. Essa caraterística foi uma das sublinhadas pela revista internacional, assim como o preço a que o hotel de luxo vende os vinhos, considerado “baixo” para a qualidade.
* in site “Dinheiro Vivo“