Entrevista a Tiago Alves de Sousa, enólogo residente da empresa Alves de Sousa.

O Abandonado 2005, que o crítico Robert Parker classificou como o melhor vinho português, é um vinho perfeito?
Perfeito não é. Mas também não acredito que a perfeição exista. Há vinhos muito bons, que estão num patamar de qualidade muito elevado e no qual o Abandonado se insere.
Qual é o segredo da sua produção?
A parte fundamental é a vinha, com condições muito especiais de disposição, de solo e de clima que dão origem às melhores uvas possíveis. Depois há que trabalhar a parte técnica, saber interpretar bem o que a vinha está a oferecer para o potenciar na adega.
Está a descrever-me o segredo de qualquer bom vinho. Mas e o seu, especificamente, que mereceu a distinção de Robert Parker no Guia Independente do Consumidor de Bons Vinhos?
Deve-se às condições da vinha em si. Esteve em parcial abandono durante algum tempo e depois recuperamá-la aos poucos, mas, essencialmente, estão lá as videiras de origem, com 80 anos, que imprimem um carácter e uma personalidade muito próprios ao vinho. Mais do que artifícios na adega, é mesmo a matéria- -prima que distingue o Abandonado.
Ainda têm vinho de 2005 disponível para vender?
Teoricamente, esse é um vinho que está esgotado, mas temos algumas garrafas porque estamos a fazer algum rateio na venda deste vinho que lançamos em Dezembro. Temos mil garrafas na adega.
Que agora estão a guardar para clientes muito especiais…
Sim, claro. Também só produzimos quatro mil garrafas de Abandonado porque é uma vinha de idade avançada, com uma área relativamente pequena, logo o rendimento é baixo.
A escolha de Parker é importante do ponto de vista comercial?
É sempre importante. The Wine Advocate é uma publicação muito respeitada e isto permite aos vinhos portugueses uma visibilidade diferente. No mesmo dia, ainda nós não sabíamos da notícia, e já havia pessoas dos EUA e Canadá a ligarem e a mandarem e-mails a perguntar onde podiam encontrar o vinho. É uma mais-valia muito grande. É natural que, em anos em que não haja Abandonado, o Quinta da Gaivosa, onde se situa esta vinha, seja também beneficiado.
Os vinhos nacionais, em especial os do Douro, têm tido sucessivos destaques nas revistas internacionais. Estão na moda?
Parece que sim. Felizmente, existem no Douro muitos produtores a fazer um trabalho de altíssimo nível e é natural que a região seja catapultada no mercado internacional. Mas também há muito bons vinhos noutras regiões do País e que recebem distinções.
in “diário de notícias”